quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

JORNALISTA LOUVA FUNAI POR RECUSAR A UM ÍNDIO O ACESSO À CIVILIZAÇÃO

JORNALISTA LOUVA FUNAI POR RECUSAR A UM ÍNDIO O ACESSO À CIVILIZAÇÃO


Comentei, em artigo recente, o crime contra a humanidade que está sendo cometido pelos antropólogos, com a cumplicidade da Funai, de deixar os índios isolados da civilização para contemplação dos turistas. Na edição de sábado passado, a Folha de São Paulo entrevistou um jornalista americano que tece loas à decisão da Funai de isolar, não uma tribo, mas um único ser humano. 

Em The Last of the Tribe, Monte Reel apóia aposta da Funai de deixar o indígena sem contato com brancos. Cidadão de um país onde os índios possuem cassinos para consumo dos brancos, Reel endossa a decisão dos indigenistas, de manter um homem isolado do tempo em que vive. Mais ainda: o episódio vai dar origem a um filme.

Segundo o jornal, o índio solitário foi visto pela primeira vez em Rondônia em 1996. Agentes da Funai fizeram várias incursões na mata para tentar se comunicar com ele, com a intenção de definir sua origem e facilitar o processo de demarcar a terra a que tem direito pela Constituição. Não tiveram sucesso. Arredio, o índio chegou a dar uma flechada quase fatal em um membro da equipe que tentou aproximação. 

Os brancos – leia-se os gigolôs de índios da Funai, mais conhecidos como antropólogos - acabaram decidindo respeitar sua solidão - não sem antes lutar contra ameaças de todos os lados para garantir a ele um pedaço da floresta. Como se o indígena, justamente por sua condição de isolado, não tivesse seu pedaço de floresta. Se não o tivesse, não viveria isolado, ora bolas.

Reel, que vive em Buenos Aires, a mais sofisticada metrópole da América Latina, considera que a decisão da Funai de parar de contatar o índio foi a coisa certa a fazer agora. “Eu tentei ser justo e mostrar o lado dos que defendiam o desenvolvimento, mostrar o argumento deles em suas próprias palavras. Mas quanto mais me envolvi com a história, mais convencido fiquei de que os membros da Funai estavam certos. Eu admiro essas pessoas e não peço desculpas por isso. Esse livro é de certa forma uma tentativa de chamar atenção para o trabalho que fazem”.

Traduzindo: o autor ianque, que se beneficia dos luxos da civilização, considera correto deixar um homem isolado do mundo contemporâneo, sem água corrente nem eletricidade, sem casa decente onde morar, sem vaso sanitário onde sentar, sem roupa com que abrigar-se, sem direito a um alfabeto, sem imprensa onde informar-se, sem assistência médica nem direitos sociais.

Em nome de quê? De algum ideal utópico rousseauneano, que considera que a civilização destrói o que há de puro no selvagem? “Eu não tinha nenhuma idéia sobre como as pessoas estão tentando viver na floresta – diz o ianque –. “Não sabia nada sobre a rotina de uma tribo isolada. E achei esse tipo de coisa muito fascinante. Passar tempo com essas pessoas que até relativamente pouco tempo atrás não tinham nenhum contato com o resto da sociedade brasileira - ir lá e ver como vivem - foi o mais interessante”.

Deve ser realmente fascinante, para quem não vive no meio do mato, gozando dos privilégios de uma metrópole, contemplar pessoas que vivem no meio do mato, sem acesso aos confortos do mundo contemporâneo. Mutatis mutandis, deve ser mais ou menos o que sente um europeu visitando uma favela: “que bom que nós superamos essa condição”.

Mais interessante ainda será ganhar gordos direitos autorais, explorando a miséria de um pobre bugre, ao qual os “humanistas” da Funai recusam o acesso à civilização.

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